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Calendário - Nosso Túnel do Tempo

Eu quero lhe convidar a me acompanhar nesta empolgante viagem. Eu sou o Repórter e o Editor do jornal fictício O Diário de Jerusalém que o guiará através do tempo a partir do nascimento de Jesus no ano 2 AC, passando por vários episódios do Novo Testamento em ordem cronológica, sempre trazendo reportagens e entrevistas com os principais personagens da história dos primeiros cristãos destacando curiosidades e informações geográficas e históricas de Israel no primeiro século.

Se tudo der certo, culminaremos na destruição do Templo de Israel pelos Romanos que teria acontecido no ano 70 de nossa era comum, isto é, depois de Cristo. Mas antes de chegarmos ao nosso ponto de partida, precisamos de uma rápida contextualização para melhor nos situarmos.

Em 168 AC, Antíoco IV (Epifânio), tomou a peito erradicar os costumes hebreus dos limites do Império Grego, que incluíam evidentemente o antigo território de Israel. O erudito Abba Eban resume da seguinte forma o que se seguiu:

Numa rápida sucessão durante os anos 168 e 167 [AC], os judeus foram massacrados, o Templo foi saqueado e a prática da religião judaica foi proscrita. A circuncisão e a observância do sábado eram punidas com a morte. O insulto final veio em dezembro de 167, quando Antíoco ordenou a construção de um altar dedicado a Zeus, dentro do Templo, e exigiu que os judeus sacrificassem carne suína (considerada impura, pela lei judaica) ao deus dos gregos.”

Durante esse período, alguns judeus helenizados continuaram a oficiar no Templo, acatando as condições imposta por seus profanadores. Embora alguns judeus aceitassem o helenismo, um novo grupo autodenominado Hassidins (ou pios) incentivava a obediência à Lei de Moisés. Aos poucos o povo foi tomando o lado dos Hassidins. Teve então início um período de muito sofrimento na medida em que os judeus eram forçados a escolher entre adotar os costumes e sacrifícios pagãos e a morte.

Quando o altar dedicado a Zeus foi erigido sobre o altar do Templo em Jerusalém isso produziu um efeito contrário ao esperado por Epifânio, pois foi a centelha que provocou a insurreição dos Macabeus. Três anos a contar daquele dia, o vitorioso líder judeu, Judas Macabeu, rededicou o Templo purificado, com uma festa que, desde então, tem sido comemorada até hoje pelos judeus como a Hanucá.

O século seguinte foi de grandes distúrbios internos, em que Israel afastou-se cada vez mais das provisões administrativas tribais do pacto da Lei. Nesse período se desenvolveram os Partidos dos Saduceus e o Partido dos Fariseus. Foi quando pediram a Roma que interviesse. O General Cneu Pompeu foi então enviado a Israel, e, depois dum cerco de três meses, Pompeu tomou Jerusalém, no ano 63 AC, anexando a Judéia ao Império Romano.

Por volta de 39 AC Herodes, o Grande, prosélito judeu de origem não hebraica, foi nomeado Rei dos Hebreus por Roma, e, uns três anos depois, ele esmagou a regência asmoneana.


No ano 2 AC Augusto César, preocupado em ter um maior controle dos impostos arrecadados por Roma, decretou que em todo o território dominado pelo Império Romano se fizessem recenseamentos, no que foi prontamente obedecido por Herodes que ordenou o censo em todo o Israel.


É neste ponto que começamos a acompanhar através de "reportagens jornalísticas" os eventos momentosos que mudariam o mundo conhecido até então.

O CALENDÁRIO

Vamos tentar resumir aqui como os hebreus lidavam com a administração do tempo. Especialmente no primeiro século de nossa Era Comum, mais especificamente entre o ano 2 AC, quando se supõe que Jesus tenha nascido, e o ano 70 de nossa era, quando Jerusalém foi invadida e destruída pelas tropas romanas e o Templo foi posto abaixo.

Os hebreus contavam o tempo de uma maneira diferente da que estamos acostumados. Enquanto nós hoje adotamos o sistema solar, eles usavam o Sistema misto Lunissolar para registrar a passagem dos meses e anos. 

Vamos a partir daqui estabelecer uma correlação entre os meses hebraicos e os nossos, e também passaremos a usar o Ano Judaico como referência na narrativa de nossas histórias. Afinal queremos contar as notícias pela perspectiva dos hebreus que viveram em Israel naquela época. Esperamos que, usando o modo de contar o tempo que eles usavam, nos ajude a mergulhar um pouco mais na narrativa.

A primeira coisa que precisamos ter em mente é o início do dia hebraico. Hoje nós contamos o início do dia a partir da meia-noite, mas os Hebreus contavam um novo dia ao pôr do sol do dia anterior, por volta das 18 horas.

Assim a gente entende, por exemplo, o porquê da pressa dos hebreus em tirar Jesus e os outros dois malfeitores da cruz. É que naquele dia mesmo, a partir das 6 horas da tarde, começava o Shabbath, o dia de descanso, sagrado para os hebreus. Então o Sábado para os hebreus começava às 18 horas da nossa sexta-feira.

Um ano hebreu correspondia a 12 luas novas. De uma lua nova à outra eles contavam um mês, o que dava mais ou menos 28 dias. De tempos em tempos eles acrescentavam um 13º mês ao ano para compensar a defasagem que acontecia, de modo a manterem o início de determinados meses coincidindo com o começo das estações do ano. Isso para eles era de suma importância porque, pelas estações do ano eles faziam o plantio e as colheitas e estas estavam ligadas a festividades específicas que tinham de acontecer sempre naquelas datas.

Depois do período que os hebreus foram escravizados pelos babilônios eles adotaram os nomes dos meses em Aramaico.

O primeiro mês, que antes se chamava abibe em Hebraico, passou a se chamar nisã em Aramaico. Este mês de nisã corresponderia ao mês de março no nosso calendário. Então ficavam assim pela ordem:

nisã (março - abril), 
íiar (abril - maio), 
sivã (maio - junho), 
tamuz (junho - julho), 
ab (julho - agosto), 
elul (agosto -setembro),
tisri (setembro - outubro), 
chesvã (outubro - novembro), 
quisleu (novembro - dezembro), 
tebete (dezembro - janeiro), 
sevate (janeiro - fevereiro) e 
adar (fevereiro - março).

O 13º mês de compensação era intercalado a cada três anos (mais ou menos) e se chamava veadar, que significa "o segundo adar" referindo-se ao último mês dos anos normais.

Vamos a um exemplo prático para tentar fixar bem estes detalhes.

Os Hebreus contam que o Deus resolveu libertá-los do Egito no primeiro mês do ano, ou seja em nisã. No dia 14 de nisã o Deus dos Hebreus fez seu anjo passar pelo Egito e matando a todos os primogênitos. Depois de libertá-los mandou que instituíssem uma festividade em memória deste grande acontecimento. Nós conhecemos esta festividade como Pessach, ou Páscoa. Agora vejam a coincidência, Contam que Jesus foi morto num mesmo dia 14 de nisã. Por isso os católicos e alguns evangélicos hoje comemoram a Páscoa no mês de março, que é o equivalente ao mês de nisã no Calendário Hebraico. E os judeus modernos também comemoram sua Pessach nesta mesma época.

Os hebreus neste ano de 2012 comemoraram o ano 5773. Eles não contam o tempo a partir de Jesus, mas acreditam contá-lo a partir de Adão. Lembre-se que eu disse lá em cima que há indícios de que Jesus nasceu no ano 2 AC. É porque no calendário atual esqueceram de computar o ano zero. Na contagem do nosso calendário é como se Jesus tivesse nascido já com um ano de idade. Agora veja:

Nosso calendário conta o tempo assim:

...    AC   2---1---2   DC  2012.

Quando deveria ter contado assim:

...  AC   2---1---0---1---2  DC  2012.

Esta diferença é usada para afirmar que Jesus na realidade nasceu dois anos antes da data que nosso calendário começou a contar a era moderna.

Então temos que:

5773 - (2012 + 2) = 3559

Jesus teria então nascido em meados do ano 3559 do Calendário Judaico.

E é neste ano, que começa a nossa aventura jornalística, quando publicamos a reportagem que fala do nascimento de um menino num estábulo. Agora continue conosco para acompanhar os próximos empolgantes capítulos de nossa história.

Alguns historiadores discordam da maioria estabelecendo a data da morte de Herodes como tendo acontecido no ano 1 DC, e neste caso ela teria se dado no mês de janeiro, data em que houve um significativo eclipse lunar citado na obra de Flávio Josefo ao se referir ao episódio (Jewish Antiquities [Antiguidades Judaicas], XVII, 167 [vi, 4]; XVII, 188-214 [viii, 1-ix, 3]).

Para fins de continuidade deste trabalho estamos tomando esta versão como premissa.

O Editor

Comentários

  1. eu queria saber a diferença na contagem de anos dos babilonios e dos hebreus trazidos de Judá

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  2. Basicamente não há diferenças sensíveis entre os calendários dos povos que adotaram o sistema lunissolar para a contagem dos anos, e isto inclui os hebreus e os babilônios.

    Pequenas discrepâncias que pudessem haver entre calendários criados independentes uns dos outros foram minimizadas, senão erradicadas, na medida em que a Babilônia se tornou uma potência mundial impondo o seu calendário aos povos conquistados.

    Mais ou menos como os romanos fizeram com o calendário solar que hoje é adotado pela maioria dos países ocidentais sem grandes diferenças.

    Espero ter lhe ajudado, apesar da demora em respondê-lo.

    Peço humildes desculpas por isso.

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  3. Interesantemais eu creio no Deus pai e Deus filho que tudo fez e criou e deu o seu filho pra morre por todos nós Amém


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