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A ESCOLA DE GAMALIEL


JERUSALÉM - Neste ano de 3.787 * em que relembramos os 18 anos da morte do Rabino Hillel, nosso correspondente em Jerusalém conseguiu uma entrevista exclusiva com seu neto, herdeiro das tradições da Escola de Formação do Ensino Superior fundada por seu avô e um dos principais conselheiros no Sinédrio, o respeitado Raban Gamaliel. Foi uma conversa animada onde nosso Grão Mestre não se furtou a responder sobre os planos da Escola para o futuro, abordando até mesmo assuntos espinhosos como a política entre outros. Vamos à entrevista.

Gamaliel

Diário de JerusalémO senhor dirige uma grande escola que rivaliza com a da Casa de Shammai, promovendo debates memoráveis entre si sobre a interpretação da Lei. O que esperar desta nova geração de doutores que estão se formando para o mercado de trabalho agora, e como vocês lidam com as divergências?

Raban Gamaliel - Para começo de conversa precisamos esclarecer que não existe esta percepção geral de que a Beit Hillel seja adversária da Beit Shammai. Existe um respeito muito grande entre as duas escolas de ensino superior e ao fim temos um mesmo objetivo que é formar grandes doutores na lei, que possam auxiliar ao povo no conhecimento da Lei e contribuir para o desenvolvimento moral e espiritual de nossa sociedade especialmente nos tempos conturbados em que vivemos. Algumas discordâncias são salutares na medida em que promovem o debate público e estimulam nossos jovens a buscar e encontrar soluções práticas aos problemas enfrentados pela população nas lides do dia a dia. Incentivamos nossos alunos a estar mais próximo do povo comum e exercer a empatia na compreensão de suas motivações com sucesso. Reforçamos a todo o tempo que eles não devem agir como se já fossem juízes prontos a condenar as pessoas por ações que lhes desagradem, mas antes, que ajam como verdadeiros estudiosos da natureza humana que são.

Diário de Jerusalém - E quanto a resistência de alguns do povo, entre os quais comerciantes influentes, que acusam aos Fariseus de extrapolarem as exigências da Lei impondo-lhes fardos cada vez mais difíceis de carregar?

Raban Gamaliel - Estes precisam entender o desserviço que prestam ao que nos estabeleceu como nação e garantiu nossa sobrevivência ao longo dos séculos. Nós, os que temos a responsabilidade de guiar o povo, temos também a obrigação de alertar-lhes dos riscos de se fugir da tradição dos antigos, indo atrás de discursos que lhes façam cócegas aos ouvidos. Os Fariseus dedicam sua vida integralmente ao estudo das escrituras, nos afastamos do convívio social e familiar na busca por soluções, e acreditamos que só nas escrituras estão as respostas às nossas indagações. Impomos a nós mesmos o pesado fardo da Lei mais do que a qualquer outro cidadão, com o objetivo de educar pelo exemplo, permitindo ao povo comum uma certa liberdade a partir de nossas interpretações, liberdade esta sem a qual engessaríamos o nosso desenvolvimento e condenaríamos nossa Nação à extinção. Os que hoje se arvoram líderes estão mais preocupados com seus próprios interesses que o da comunidade como um todo coeso. É preciso ter cuidado com estes falsos profetas.

Diário de Jerusalém - O senhor por duas vezes fez referência aos tempos em que estamos vivendo, como sendo "difíceis e conturbados". Qual o envolvimento da Casa de Hillel nas questões políticas atuais que envolvem Israel e o seu posicionamento diante delas?

Raban Gamaliel - Eu não gosto de me pronunciar publicamente sobre a conjuntura política para evitar mal entendidos que possam criar incidentes, por interpretações erradas que não reflitam meu posicionamento. Espero que entendam a minha posição. O que eu posso lhes dizer é que a Casa de Hillel se pauta pela absoluta certeza de que tudo o que acontece no mundo está de acordo com os desígnios de uma inteligência infinitamente superior à do homem terreno. Tentar se aproximar do entendimento destes desígnios e fazer este entendimento chegar da maneira mais simples ao povo comum é o nosso trabalho. É de suma importância compreender e se curvar ante a vontade desta força superior para que não nos vejamos na situação de estarmos combatendo contra o próprio D'eus. Veja quão importante isso é.
 Como membro eminente do Conselho Judicial do Sinédrio, posso lhes garantir que nossas relações diplomáticas com Roma e os demais países que compõem o império mundial estão hoje muito melhores do que estavam há 18 anos, quando meu avô nos deixou. Vivemos um momento de paz e segurança com perspectiva de grandes avanços nas questões sociais.

Diário de Jerusalém - As questões sociais tem recebido especial atenção desde a sua chegada ao Sinédrio...

Raban Gamaliel - Acho bom que tenha tocado neste ponto. Recentemente alcançamos uma grande vitória ao aprovarmos que a mulher cujo marido tenha destino incerto e ignorado receba o direito de se casar novamente mediante o testemunho favorável de apenas uma pessoa. Milhares de mulheres estão saindo da condição de extrema pobreza junto com seus filhos, algumas das quais se viram obrigadas a sujeitar-se a serviços degradantes e imorais para não morrerem de fome. Além disso, essa medida incentiva a muitos casais que viviam em situação irregular a se casarem, normalizando suas vidas junto à sociedade.
Encontra-se também em tramitação a petição de minha autoria que permitirá ao prosélito estrangeiro mais necessitado participar junto aos judeus naturais da respiga que nos é garantida na Lei de Moshe, com grandes chances de ser aprovada. Não pode haver distinção de direitos quando os deveres são os mesmos.

Diário de Jerusalém - Não vamos mais tomar o seu tempo. Ficamos muito gradecidos por nos receber. Fique à vontade para fazer suas considerações finais.

Raban Gamaliel - Eu que agradeço a oportunidade. Digo ao povo de Israel que confie na Lei e em seus governantes. A nova safra de líderes que estamos formando em nossa Escola Superior estará preparada para os grandes desafios que temos pela frente e para guiá-los quando não estivermos mais aqui. Não posso falar dos que ainda estão na conclusão do curso, mas prestem atenção aos que acabaram de se formar recentemente, com destaque especial para o Doutor Shaul de Tarso, um de nossos mais destacados alunos. São advogados extremamente preparados para representar tanto ao povo como ao Estado e serão grandes juízes quando chegar o tempo. Nossa comunidade está em boas mãos. É apenas uma questão de confiança mútua, confiança no futuro, mas acima de tudo confiança em nosso criador. Shalom.

(* Para maiores informações sobre o Calendário usado clique sobre o ano)

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