Ouça a Narração
Bem vindo. Vamos falar de Moisés, Gilgamesh e o dilúvio.
"E, como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem. Comiam, bebiam, casavam, e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e os consumiu a todos." Lucas 17 26-27.
Do sexto ao oitavo capítulos da Gêneses segundo os hebreus contam a história do patriarca Noé que, por ter encontrado favor aos olhos do Deus, garantiu a sobrevivência da raça humana, depois do criador ter deliberado destruir toda criatura vivente que pôs sobre a Terra.
"E disse o Senhor [Deus]: Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito." Gêneses 6 7.
Existem algumas semelhanças entre a história de Noé, várias vezes referenciada no Novo Testamento, e a história de Gilgamesh, o rei acadiano tido como um semideus.
Em ambas as narrativas acontece um dilúvio, também há uma embarcação onde algumas pessoas se salvam, um pássaro é solto para encontrar terra seca após o aguaceiro e um sacrifício é oferecido após o desembarque.
Os estudiosos, com base na antiguidade das dinastias Sumérias, são unânimes em afirmar que o reinado de Gilgamesh é em muito anterior ao relato escrito por Moisés. Daí concluírem que Moisés simplesmente plagiou a lenda suméria.
Será isso uma verdade inquestionável?
Moisés certamente baseou sua história da Gêneses em relatos anteriores, afinal ele não esteve em Éden, muito menos chegou a conhecer seu tetravô Noé, e há mesmo indícios fortes de que os vários capítulos que compõem o primeiro livro da Bíblia sejam uma compilação de várias histórias mais antigas.
Mas ele usou a lenda dos sumérios para compor sua narrativa?
Embora haja semelhanças entre as histórias, também existem diferenças suficientes para se por em dúvida que uma história seja cópia da outra, a começar pelo motivo que levou ao dilúvio.
Enquanto a narrativa de Gilgamesh diga que um dos muitos deuses se incomodou com o barulho que os humanos faziam aqui embaixo, para Moisés o motivo do Deus decidir trazer o dilúvio foi porque a maldade humana se espalhou ao ponto de ameaçar toda a Terra. Então Deus decidiu obliterar a humanidade para proteger sua criação, numa medida sanitária.
No entanto existem mais de cem outros relatos, em diferentes lugares do mundo que falam em um dilúvio global, espalhados entre civilizações as mais remotas, separadas no espaço geográfico e no tempo. Até entre os Astecas na América do Sul e na distante Austrália foram encontrados relatos parecidos.
O que depõe a favor de que pode mesmo ter ocorrido uma hecatombe de grandes proporções que marcou os primórdios da humanidade, antes dos seres humanos se espalharem pela Terra, sendo que cada povo desenvolveu sua versão do que aconteceu.
Mas quem registrou o evento por escrito pela primeira vez?
Os pesquisadores deixam de considerar o fato que os sumérios e hebreus registravam suas histórias sobre suportes diferentes.
Os hebreus, como povo eminentemente nômade, sempre tiveram o costume de escrever em peles de animais, talvez por serem mais fáceis de carregar em rolos na bagagem, mesmo tendo a desvantagem de não resistirem ao tempo, daí fazerem muitas cópias. Enquanto os sumérios escreviam em tábuas de argila ou esculpiam em pedra seus relatos.
A alegada antiguidade maior dos relatos sumerianos é inconclusiva portanto, simplesmente porque, mesmo que existissem relatos mais antigos escritos pelos hebreus, à certa altura só existiriam cópias mais recentes, porque os rolos anteriores simplesmente teriam sido destruídos com o tempo.
E Moisés bem poderia ter baseado sua história em cópias que hoje não existem mais, mas que poderiam ainda existir no tempo dele em alguma biblioteca, ou carregadas em caravanas por antigos patriarcas hebreus preocupados com a preservação de sua história.
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